quarta-feira, fevereiro 09, 2011

auto-promoção

Mais uma vez um "post" sobre a análise de "DNA barcodes" (já comentado aqui e aqui), mas desta vez é mais autopromoção do que reflexão ou histórias passadas. Recentemente o CNPq lançou uma chamada para financiar a análise de DNA barcodes em larga-escala no Brasil, denominada "Identificação Molecular da Biodiversidade". A proposta de rede tem a coordenação do Prof. Dr. Claudio de Oliveira, pesquisador 1A do CNPq e docente da UNESP no campus de Botucatu. Foram aprovados 10 sub-projetos vinculados à rede, incluindo um sub-projeto sob a coordenação da Profa Dra Ana Maria L. de Azeredo Espin, da UNICAMP, que irá concentrar esforços para obter a caracterização da sequência de "DNA barcodes" de mais de 2.000 espécies de invertebrados terrestres. Minha participação neste sub-projeto já rendeu um nota divulgada no "site" da UFSCar.

Nota de esclarecimento: "DNA barcodes" refere-se a uma estratégia de análise que compara as sequências de DNA de um trecho de ~ 650 pb (pb = pares de bases ou nucleotídeos) do gene da subunidade I da Citocromo Oxidase C - COI, um gene codificado pelo DNA mitocondrial, de várias espécies animais (incluindo vários indivíduos de cada espécie, podendo variar entre 3 até 10). A análise da divergência encontrada na comparação entre quaisquer 2 sequências (ou seja, a quantidade de variação entre elas) pode indicar se as sequências pertencem a uma mesma espécie ou a duas espécies distintas. Um ponto importante que pode tornar esta análise mais complexa é que existe polimorfismo genético nestas sequências, ou seja, existe variação genética mesmo entre dois indivíduos da mesma espécie. Então a análise precisa ser baseada em intervalos de variação, limites e uma boa amostragem. Na tradução para o português, o "DNA barcodes" tornou-se o "código de barras da vida", uma estratégia que requer enorme integração das áreas de taxonomia e genética, ao meu ver imprescindíveis para a condução de estudos cientificamente bem fundamentados.

Reproduzo abaixo a notícia, na íntegra, que saiu vinculada na página de internet do campus Sorocaba da UFSCar após entrevista com Márcia Dias do CCS/UFSCar-Sorocaba:

"Docente do campus Sorocaba participa de pesquisa sobre Identificação Molecular de Invertebrados Terrestres

A docente Ana Cláudia Lessinger, do campus Sorocaba da UFSCar, integra um grupo de 50 pesquisadores de todo o Brasil que desenvolverá um estudo em rede sobre a Identificação Molecular da Biodiversidade Brasileira (BR-BoL). O projeto recebeu um financiamento de R$ 5 milhões do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O estudo terá como base a caracterização de sequências de DNA das mais variadas espécies de borboletas, mariposas, abelhas, formigas, moscas, besouros e minhocas.

A pesquisa de Lessinger integra o grupo que trabalhará na identificação molecular dos invertebrados terrestres da fauna brasileira. Este subprojeto terá a coordenação da pesquisadora Ana Maria Lima de Azeredo Espin, da Unicamp, e o financiamento específico de R$ 600 mil. A docente da UFSCar, que tem experiência na área de Genética com ênfase em genômica mitocondrial e comparativa, também está orientando uma dissertação de mestrado sobre o uso de sequências de DNA para identificação taxonômica de moscas e participa da gestão da equipe de trabalho junto à coordenação do sub-projeto.

Segundo a docente do campus Sorocaba, estima-se que a pesquisa fará inicialmente a análise de DNA para a identificação taxonômica de aproximadamente 2.250 espécies de invertebrados terrestres, a partir de análise de amostras recém-coletadas e exemplares de museus e coleções entomológicas. Lessinger considera a realização dessa pesquisa importante para o Brasil. "A proposta é estabelecer um sistema de identificação molecular para integrar inventários de biodiversidade no País", explica. Sendo o Brasil um país com alta diversidade de espécies animais, essa pesquisa é um esforço pioneiro no sentido de acessar a biodiversidade molecular brasileira. Segundo Ana, os pesquisadores acreditam que o que se conhece da diversidade de invertebrados, representa apenas 10% do que se prevê que exista. "Esta identidade molecular, depositada em banco de dados, promove o acesso ao conhecimento taxonômico além de representar uma estratégia inovadora e de caráter multidisciplinar", afirma a docente.

No campus Sorocaba, Ana Lessinger vai desenvolver sua pesquisa no laboratório de Genética Molecular, onde serão realizadas as extrações de DNA e o isolamento da região gênica que será estudada. O sequenciamento desse material será feito pelo Laboratório de Genética e Evolução Animal da Unicamp. As sequências nucleotídicas serão enviadas para o Núcleo de Bioinformática do BR-BoL (Fiocruz-MG) e, posteriormente, estarão disponíveis para a análise que será feita pela equipe da professora Ana Lessinger, nos laboratórios do campus Sorocaba da UFSCar."

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Divagando... divergindo... dialogando?

"Se diverges de mim, me enriqueces"

Segundo o google estas palavras são de Dom Helder Camara... (que eu havia confundido com Dom Evaristo Arns... santa ignorância). É uma frase bonita, não? Veja pelo lado do "impossível": quantas pessoas vc conhece, com quem convive, no trato pessoal e profissional, que já pronunciaram estas palavras? Falo de gente mais mundana (= do mundo), para as eminências religiosas, tamanha "aceitação do outro" é exercício diário, aprendido já no jardim de infância. Tudo bem, mesmo que sejam raros os exemplos daqueles que verbalizam com naturalidade (de forma autêntica) este convite ao diálogo, quantos outros você acha que verdadeiramente se preocupam com isso nas suas interações cotidianas. Estamos (ou já passamos?)  na "Era da Informação", cujo fluxo se viabiliza pela comunicação, que permite que se compartilhe informações complexas entre diferentes continentes em poucos segundos (basta ver esses pontinhos vermelhos nos mapinhas que normalmente acompanham os blogs, que o autor confere diariamente com orgulho de transitar pelos mais longínquos recôncavos - não é o caso do via gene - ainda :)). Como a dita "Era da Informação" lida com a dificuldade de diálogo e de reconhecimento e valorização de opiniões divergentes? Este é um cenário que infelizmente é mais frequente do que gostaríamos. E pior: nem sempre posso dizer que sou imune a esse fenômeno que transforma o que poderia ser uma discussão enriquecedora em uma briga de surdos! Mas a cultura do diálogo poderá vingar, e vejo nos blogs científicos uma oportunidade de também exercitar este talento, vocês não concordam (lembrem-se: se discordarem, me enriquecem!)? Descupem-me pela provocação, mas não resisti :)

ana claudia