quinta-feira, dezembro 06, 2007

e nem nos damos conta...

continuando o "copy&paste" de textos re-publicados no Jornal da Ciência (JC e-mail 3405, de 06 de Dezembro de 2007), aqui vai mais um artigo sobre o desempenho de alunos brasileiros em Ciências avaliado recentemente pelo PISA (ver "post" anterior).

No pé do ranking, aluno brasileiro acha que sabe mais ciência do que finlandeses
Antônio Gois e Angela Pinho escrevem para a “Folha de SP”:
Quando fazem as provas de ciências do Pisa (exame internacional divulgado anteontem que compara o desempenho de jovens de 57 países), os alunos brasileiros ficam nas últimas posições.
No entanto, ao serem questionados sobre o próprio conhecimento da disciplina, eles se mostram mais confiantes até mesmo do que os líderes do ranking, os finlandeses.
Ao responder a um questionário na prova, em 2006, 81% dos brasileiros que fizeram o teste disseram que "geralmente conseguem dar boas respostas a testes de ciências na escola". No Japão, sexto país com melhor desempenho na prova, 29% escolheram essa opção.Na Finlândia, 69% disseram dar boas respostas, próximo à média de 65% dos 30 países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), entidade que organiza o Pisa.
Os itens em que os brasileiros foram mais reticentes foram "eu consigo entender facilmente novas idéias em ciência na escola" e "temas de ciência na escola são fáceis para mim": 62% concordaram.
Para Marta Barroso, professora do Instituto de Física da UFRJ que já estudou o desempenho dos brasileiros em ciências no Pisa, é natural que alunos que saibam mais sejam mais críticos ao avaliar seu desempenho: "Lembre-se que "quanto mais eu sei, mais sei que nada sei". Certamente um aluno japonês tem mais idéia do que seja aprender e entender ciências que um brasileiro.Ela diz, no entanto, que também podem ter contribuído o fato de o questionário aplicado aos alunos ser muito longo -com perguntas pouco usuais para o estudante- e a possível percepção do estudante de que responder àquelas questões não era importante ou que poderia ser usado para puni-lo.
(Folha de SP, 6/12)

a ciência foi pro espaço... no mau-sentido

Só repassando a notícia que foi publicada ontem no site do Jornal da Ciência (JC e-mail 3404, de 05 de Dezembro de 2007), já um recorte do jornal Estadão:


"Pisa: Em ciência, 61% estão no pior nível

27,9% dos alunos não chegam nem ao grau mais baixo de compreensão
Resultado do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes*) divulgado ontem mostra que 61% dos alunos brasileiros estão abaixo ou no pior dos 6 níveis de desempenho em ciência determinados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Ao dividir por área de conhecimento, a avaliação evidencia que os brasileiros tiveram melhor desempenho em biologia, deixando outras áreas, como astronomia, ainda com piores resultados.Em uma escala de 800 pontos, 390 foi a nota do Brasil em ciência no Pisa, o que rendeu ao país o nada honroso 52º lugar entre as 57 nações que participaram da avaliação.O Brasil ter ficado no pior nível de desempenho representa que 33,1% dos estudantes que fizeram a prova têm conhecimento científico muito limitado e só conseguem elaborar explicações científicas óbvias ou seguidas de informações já evidenciadas.Entretanto, o Pisa traz outro dado crítico: 27,9% dos alunos nem sequer atingiram tal escala, pois tiveram desempenho abaixo do nível 1.
Segundo Maurício Bacci, coordenador do curso de Ciências Biológicas da Unesp/Câmpus Rio Claro, os resultados do Pisa ilustram a realidade do ensino de ciência no Brasil. “Os alunos chegam às universidades sem formação prática. Com isso, os professores universitários acabam tendo de recuperar conteúdos de ciência que deveriam ser adquiridos na educação básica.” Entre os principais problemas apontados por Bacci, estão a falta de salários atraentes aos licenciados em Biologia, Física e Química e as condições de trabalho oferecidas nas escolas públicas. “É preciso estruturar as escolas públicas com laboratórios e, principalmente, investir em material humano.”
Áreas do conhecimento
O Brasil obteve melhor classificação na área dos sistemas vivos (a biologia), com pontuação 403. Em sistemas físicos (ciências químicas e físicas), a nota foi 385. Já em sistema espacial e planeta Terra (cosmologia, geologia e astronomia), fez 375 pontos, melhor apenas que Colômbia, Catar e Quirguistão.
De acordo com Luiz Carlos Menezes, professor do Instituto de Física da USP, a diferença de desempenho entre as áreas é pequena, mas pode ser reflexo da ênfase dada às ciências da vida nos últimos anos do ensino fundamental.“Hoje, ciência é sinônimo de ciências da vida no ensino fundamental. Os professores que atuam nessa etapa de ensino são licenciados em Ciências e não em Física e Química, com isso há uma tendência a valorizar essa área.” Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizem para a necessidade de ter astronomia, cosmologia e geologia no ensino fundamental, Menezes diz que essas áreas foram praticamente varridas do currículo. “É preciso dar ênfase a essas áreas na formação de professores e nos livros didáticos.” O especialista em física explica que faltam professores formados para dar aulas que motivem os alunos a aprender. “Uma coisa é o aluno ser capaz de olhar para o céu e entender as razões que fazem o Sol nascer no leste. Outra é o professor fazê-los decorar os nomes dos planetas, sem relação alguma com a vida prática.”
O Pisa mostra que, em relação às competências adquiridas em ciência, os brasileiros ainda deixam a desejar. Apenas 33% aplicam o conhecimento científico para resolver um problema. Outro dado alarmante: 35% não tiram conclusões por meio de evidências científicas nem refletem sobre as implicações sociais da ciência e desenvolvimento tecnológico.
Marcelo Knobel, professor do Instituto de Física da Unicamp, acredita que o melhor caminho para reverter esse quadro é o investimento no professor. “Um licenciado em ciências, quando ensina a audição do corpo humano tem de apresentar aos alunos conceitos de som. As áreas do conhecimento biológico e físico têm de estar integradas e, para isso, é preciso bons programas de formação.”
Na escola
Vivian Froes, de 17 anos, no 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Jair Toledo Xavier, na Brasilândia, zona norte da capital achou a prova fácil. “Caiu bastante aquecimento global.”Mas Vivian, que quer ser professora de História em escola pública, afirma que o péssimo desempenho do Brasil no Pisa mostra que algo está errado. “Minha escola é boa, temos de fazer até Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Nem todas são assim e tenho medo do que encontrarei quando me formar professora. Os baixos salários e a violência desanimam.”
(Maria Rehder)(O Estado de SP, 5/12)
*O Pisa, exame considerado o mais importante do mundo em educação, é realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos. Cerca de 400 mil alunos de 15 anos, de 57 países, fizeram a última prova.

segunda-feira, novembro 19, 2007

meu querido diário... genético?

Diretamente do Jornal da Ciência de hoje copia esta reportagem:
Amy Harmon escreve para "The New York Times":
A exploração do genoma humano é algo que durante muito tempo está restrito aos cientistas nos laboratórios de pesquisa. Mas isto está prestes a mudar. Uma nova indústria está capitalizando a queda dos custos da tecnologia de exames genéticos para oferecer às pessoas um acesso sem precedentes - e sem intermediários - ao seu próprio DNA.Por apenas US$ 1.000 e uma amostra de saliva, qualquer pessoa poderá se inscrever para descobrir o que a ciência sabe a respeito da maneira como os bilhões de bits do seu código biológico moldaram-na como um indivíduo. Três companhias já anunciaram planos para comercializar tais serviços.Quando me ofereceram a oportunidade de ser uma das primeiras pessoas a usar um desses serviços, eu concordei, mas com algumas reservas. E se eu descobrisse ser provável que morresse jovem? Ou que eu pudesse ter passado um gene indesejável para a minha filha? E, para falar em algo mais pragmático, e se no futuro uma companhia de seguros ou um empregador usasse tal informação contra mim?Mas, três semanas depois, eu já estava meio viciada na comunhão diária com os meus genes (uma questão recorrente: tal vício seria genético?).Por exemplo, as minhas mãos doeram no dia seguinte. Assim, naturalmente, eu chequei o meu DNA.Seria esse o primeiro sinal de que eu herdara a artrite que retorceu os dedos trabalhadores da minha avó paterna? Acessando a minha conta na 23andMe, a companhia pioneira que agora tem a custódia do meu código biológico, digitei a minha pergunta no Genome Explorer e cliquei em "return" ("retonar"). Basicamente, o que eu estava fazendo era uma "googlada" no meu próprio DNA.Passei horas todos os dias fazendo apenas isso, à medida que eram anunciados quase que diariamente novos estudos vinculando trechos de DNA a doenças e a características como aparência, temperamento e comportamento. Às vezes, o fato de surfar no meu genoma causou aquele mesmo choque de reconhecimento que ocorre quando alguém vê a si próprio inesperadamente no espelho.Quando cresci, eu me recusei a beber leite. Agora, fiquei sabendo que o meu DNA carece da mutação que facilita a digestão de leite pelos adultos, algo que tornou-se comum entre os europeus após a domesticação das vacas.Mas a experiência fez também com que eu questionasse as suposições sobre mim mesmo. Aparentemente eu não tenho predisposição para boa memória verbal, embora sempre tenha me orgulhado da minha capacidade de lembrar de ditados e citações. Será que eu deveria gravar mais as minhas entrevistas? Decidi que não; sou boa com citações. Venho praticando há anos. Lembrei a mim mesmo que o DNA não é a palavra definitiva.Não gosto de couve-de-bruxelas. Quem sabia que isso era genético? Mas eu tenho o fragmento de DNA que me confere a capacidade de sentir o gosto de uma substância que faz com que as verduras e legumes apresentem sabor amargo. Sou diferente das pessoas que não sentem o sabor amargo - pessoas que, na verdade, gostam de couve-de-bruxelas - devido a uma única diferença no nosso alfabeto genético de quatro letras: em algum lugar no cromossomo humano sete, eu tenho um G onde elas têm um C.Esta é apenas uma das cerca de dez milhões de diferenças, conhecidas como polimorfismo de nucleotídeo único (SNP, na sigla em inglês), espalhadas pelos 23 pares de cromossomos humanos nos quais a 23andMe inspirou-se para adotar este nome. A companhia criou uma lista dos meus "genótipos" - ACs, CCs, CTs e assim por diante, com base nas versões de SNP que possuo na minha coleção de pares de cromossomos.Por exemplo, tragicamente eu não conto com a predisposição para comer alimentos gordurosos sem ganhar peso. Mas pessoas que, como eu, são GG no SNP conhecido pelos geneticistas como rs3751812 são 2,9 quilos mais leves, em média, do que as AAs. Obrigado, rs3751812!E caso uma descoberta recente seja verdadeira, o meu GG no rs6602024 significa que sou além disso 4,5 quilos mais magra do que aqueles cujo código genético apresenta uma soletração diferente. Boas novas, exceto pelo fato de eu agora só poder culpar a minha preguiça pelo fato de não caber mais nas calças que usava antes da gravidez.E, embora haja grande controvérsia quanto ao papel que os genes desempenham na determinação da inteligência, foi difícil resistir a dar uma espiada nos SNPs que vêm sendo vinculados - mas de forma tênue – ao QI. Três me são favoráveis, três contrários. Mas encontrei esperança em um estudo divulgado na semana passada que descreve um SNP intensamente vinculado a um aumento do QI de bebês que são amamentados.Bebês com a forma CC ou CG de SNP aparentemente beneficiam-se de um ácido graxo encontrado apenas no leite materno, mas, os que têm a forma GG, não gozam desse benefício. O meu genótipo CC significa que eu me tornei candidata a um aumento de seis pontos no QI quando a minha mãe me amamentou. E, como, segundo as leis da genética, a minha filha necessariamente herdou um dos meus Cs, ela também se beneficiará do fato de eu tê-la amamentado. E, por falar nisso, onde foi mesmo que coloquei aquelas fichas de inscrição para a pré-escola?Eu nem sempre me senti confortável com relação ao meu genoma. Antes de cuspir no recipiente, liguei para várias grandes companhias de seguro para verificar se estaria prejudicando as minhas chances de conseguir cobertura. Elas disseram que não, mas isso é agora, quando quase ninguém conta com tais informações sobre a própria estrutura genética. Dentro de cinco anos, caso companhias como a 23andMe tenham sucesso, muito mais gente terá acesso a tais informações. E o que as companhias de seguro desejam saber não é exatamente o risco relativo do indivíduo contrair doenças?No mês passado, sozinha em uma sala da sede da 23andMe em Mountain View, na Califórnia, tendo pela primeira vez a minha senha, eu falei umas coisas meio sem sentido (propensão genética?) e caminhei pelo corredor para saber das novidades. Assim que visse os meus resultados, jamais poderia voltar atrás. Eu havia me preparado para o pior que pudesse descobrir naquele dia. Mas e se algo ainda pior surgisse amanhã?Alguns fornecedores de serviços de saúde argumentam que a população não está preparada para tais informações e que seria irresponsável fornecer tais dados sem a presença de um especialista que ajudasse a inserir esse conhecimento no seu devido contexto. E, em determinados momentos, enquanto reunia a coragem para avaliar os riscos que tenho de sofrer de câncer de mama ou Alzheimer, pude ver que tal argumentação faz sentido.A Navigenics, uma das companhias que deseja comercializar informações pessoais referentes ao DNA, tem a intenção de fornecer uma consulta telefônica com um conselheiro genético no momento de entregar os resultados. O serviço prestado pela companhia custa US$ 2.500 e ela a princípio fornecerá dados sobre 20 doenças.A DeCode Genetics e a 23andMe vão oferecer orientações. Todas as três companhias estão apostando que as pessoas desejarão informações instantâneas sobre novas descobertas. Eu sei que jamais conseguiria deixar escapar a oportunidade de preencher uma lacuna no meu quebra-cabeça genético.Decidi não submeter o DNA da minha filha ao exame - pelo menos não agora - porque não quero encarar nada a seu respeito como sendo predestinado.Se ela desejar tocar piano, quem se importa se não tiver uma afinação perfeita? Se quiser participar de uma corrida de cem metros rasos, para que saber se ela carece do gene característico dos velocistas? E será que eu realmente desejo saber - será que ela realmente gostaria de saber algum dia - que genes herdou de determinado genitor, avô ou avó?Mas não estou livre. O que quer que esteja espreitando nos meus genes, esteve lá durante toda a minha vida. Não olhar para isso seria como rejeitar alguma parte fundamental de mim mesmo. Compelida a saber (tendência genética?), naveguei rapidamente pelas telas de advertência do site. Li que não haveria nenhuma informação definitiva, e que novas descobertas poderia reverter as informações que eu recebesse neste momento. Ainda que o site me informasse que o meu risco de desenvolver uma doença fosse alto, poderia acontecer de não haver nada a ser feito quanto a isso, e, além do mais, eu não deveria encarar a informação como um diagnóstico médico. "Se, após levar esses fatores em consideração, você ainda desejar ver os seus resultados, clique aqui", informou a tela.Eu cliquei.Assim como outros usuários dos serviços da 23andMe, o meu primeiro impulso foi olhar as partes do código genético associadas às doenças que mais temo.Mas, ao me deparar com o gráfico de barras que mostra os genes bons em verde e os ruins em vermelho, tive uma sensação perversa de realização. O meu risco de desenvolver câncer do seio não é maior do que o da média, da mesma forma como o meu risco de padecer de Alzheimer. Vi que tenho uma tendência 23% menor do que a maioria das pessoas de sofrer de diabetes Tipo 2. E o risco de ficar paralisada devido a esclerose múltipla é quase nulo. Apresento um risco três vezes mais do que o indivíduo médio de sofrer da doença de Crohn, mas, ainda assim, a chance de que isso ocorra é inferior a 1%.Em suma, deparei-me com uma notável saúde genética, e eu sequer tinha freqüentado a academia nos últimos meses!Mesmo assim, o simples fato de estudar o meu DNA me deixou mais consciente dos riscos básicos de saúde que todos nós corremos. Abandonei o meu hábito de comer meus chocolates M&M no meio da tarde. E, a seguir, abri o meu Jornal Genético na parte relativa a doenças cardíacas para descobrir que tenho uma propensão 23% superior à média de sofrer um ataque cardíaco."Escolhas de estilos saudáveis de vida desempenham um grande papel em prevenir as obstruções que levam a ataques cardíacos", foi o que o site me informou.Obrigado, Jornal Gene. Mas de alguma forma até esse conselho banal soou mais forte quando a advertência veio do meu próprio DNA.De volta a Nova York, segui para a academia de ginástica, apesar de uma reportagem urgente que tinha que escrever, e das ainda não preenchidas fichas de inscrição pré-escolares da minha filha. Agora pelo menos sei que tenho mais tempo. Descobri um SNP que provavelmente indica uma grande longevidade.Mas, naquilo que passei a aceitar como sendo a lei genômica das médias, logo descobri que poderia muito bem passar esses anos extra de vida cega. Segundo os SNPs para degeneração macular que pesquisei na área do Genome Explorer do site da 23andMe, eu corro um risco quase cem vezes maior de desenvolver esta doença do que alguém que apresenta a mais favorável combinação A-C-G-T.E, ao contrário do conselho padrão do tipo alimentação-saudável-e-exercícios referente à saúde cardíaca, neste caso não há muito que eu possa fazer. Mesmo assim, achei o conhecimento a respeito do meu futuro potencial estranhamente confortador, ainda quando ele não se encaixava com aquilo que eu desejara. Pelo menos o meu risco de ter os dedos retorcidos quando for idosa não é grande como eu temia. Eu não tenho o SNP para artrite.Talvez eu simplesmente esteja digitando demais o teclado do computador.
(Tradução:Uol)(The New York Times, Uol.com/Mídia Global, 17/11)
artigo original aqui

quinta-feira, novembro 08, 2007

23 pares e mais um pouco...

Divulgação: hoje recebi um email informando sobre o nascimento de um blog sobre genes, genomas e a natureza humana. Batizado de 23 pares, apresenta-se o blog da Márcia Triunfol, bióloga, divulgadora de ciências e "n" outras habilidades, experiências e interesses, conforme ela comenta no "post" de inauguração "Coffee-Lattes, com muita espuma". O via gene deseja muito sucesso a mais esta iniciativa em prol da divulgação científica.
ana cláudia

quarta-feira, outubro 31, 2007

Prêmio Nobel-Abacaxi


James Watson e suas declarações desastrosas (retirado da Wikipédia):


"Watson declarou, em artigo publicado no Sunday Times Magazine em 14 de outubro de 2007, que está "inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África" porque "todas as nossas políticas sociais estão baseadas no facto de que a inteligência deles é a mesma que a nossa – enquanto que todos os testes dizem que não é assim". Ele afirma desejar que todos fossem iguais, mas argumentou que "pessoas que têm de lidar com empregados negros descobrem que isso não é verdadeiro". Ele afirmou que não se deveria discriminar com base na cor da pele, porque "existem muitas pessoas de cor que são bastante talentosas, mas que não são encorajadas quando não obtêm sucesso no nível mais elementar.


"Não há nenhuma razão sólida para antecipar que as capacidades "intelectuais de pessoas geograficamente separadas em sua evolução provem ter evoluído de forma idêntica", escreveu. "Nosso desejo de reservar poderes iguais de raciocínio como alguma herança universal da humanidade não será suficiente para fazer com que assim seja.""


James Watson e suas desculpas (retirado da Wikipédia):


"Watson (...) desculpou-se por seus comentários, declarando: "para todos aqueles que extraíram uma inferência de minhas palavras de que a África, como continente, é de algum modo geneticamente inferior, posso somente me desculpar sem restrições. Não foi o que eu quis dizer. O mais importante, do meu ponto de vista, é que não há base científica para tal crença", e depois, "não posso entender como posso ter dito o que foi citado como eu tendo dito. Posso certamente entender por que as pessoas que leram estas palavras reagiram da forma que reagiram."


Em 25/10/2007, o filósofo Helio Schwartsman publicou um texto sobre uma recente declaração de James Watson (prêmio Nobel (pela estrutura do DNA) e prêmio Abacaxi (pelo preconceito)) em sua coluna no "site" da Folha OnLine. Pensei em escrever a respeito da declaração de Watson e da reação imediata que esta desencadeou, mas reconheci no texto do filósofo minhas impressões e opinião. Por falta de tempo e pela identificação com esta matéria, reproduzo aqui o que li na coluna do Hélio:


O DNA do racismo


"James Watson, o co-descobridor da molécula de DNA e ganhador do Nobel de 1953, pisou na bola. Em Londres para a divulgação de seu novo livro "Avoid Boring People" (evite pessoas chatas ou evite chatear as pessoas), ele deu declarações escandalosamente racistas. Acho que nem o Borat ou qualquer outro comediante querendo troçar do politicamente correto teria ido tão longe.


Em entrevista ao jornal britânico "The Sunday Times", o laureado disse na semana passada que africanos são menos inteligentes do que ocidentais e que, por isso, era pessimista em relação ao futuro da África. "Todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles [dos negros] é igual à nossa, apesar de todos os testes dizerem que não", afirmou.


Até aqui, com muito boa vontade para com Watson, poderíamos argumentar que o venerando pesquisador procura apenas exercer sua liberdade acadêmica, afinal, se há mesmo evidências a mostrar que negros são menos inteligentes, ele poderia ter um ponto. Mas já na frase seguinte ele mostrou que seu raciocínio não era exatamente científico: "Pessoas que já lidaram com empregados negros não acreditam que isso [a igualdade de inteligência] seja verdade".


Watson cometeu aqui pelo menos dois grandes pecados epistemológicos --deixemos por ora a questão moral de lado. Falou em "todos os testes" sem dizer quais e fez uma generalização apressada. Eu já lidei com patrões e empregados brancos, negros, amarelos e pardos, com pessoas burras e inteligentes, e posso asseverar que todas as combinações são possíveis.


Como era previsível, a reação às declarações de Watson foram efusivas. Ele foi desconvidado para vários eventos e houve até quem procurasse nos estatutos da Fundação Nobel uma brecha legal para cassar-lhe o prêmio. O experiente cientista, agora com 79 anos, acabou escrevendo um artigo em que pediu desculpas a quem tenha ofendido.


Não há dúvida de que Watson, reincidente em matéria de opiniões preconceituosas, merecia censuras. Receio, porém, que alguns de seus críticos tenham recaído nos mesmos erros que ele, isto é, afirmar coisas que não podem provar e proceder a generalizações problemáticas.


Os testes a que o laureado se referiu são provavelmente as tabelas de Richard Herrnstein e Charles Murray publicadas em "The Bell Curve" (a curva do sino ou a curva normal), de 1994, um dos livros mais explosivos da década passada. A obra pretendia sustentar que a inteligência medida por testes de QI é um fator preditivo de indicadores sociais como salário, gravidez precoce e problemas com a Justiça melhor do que o nível socioeconômico da família. O texto também afirma que negros dos EUA têm em média um QI mais baixo do que o de outros grupos sociais como brancos, judeus, asiáticos.


Sobretudo na imprensa, circulou a versão de que os autores diziam que a inteligência é dada pelos genes, mas Herrnstein e Murray não foram tão longe em seu determinismo. Eles afirmaram que permanece em aberto o debate sobre se e quanto genes e ambiente influem nas diferenças de QI entre os grupos étnicos --o que representa mais ou menos o consenso científico sobre a matéria.


"The Bell Curve" foi competentemente criticado por grande parte do establishment acadêmico norte-americano. De um lado, vieram as objeções conceituais, encabeçadas por cientistas como Stephen Jay Gould, que contestaram a idéia de que a inteligência possa ser reduzida a um teste de QI. Fazê-lo implicaria aceitar uma série de pressupostos de engolir, como o de que uma noção tão complexa possa ser traduzida num único número e que ela permaneça invariável ao longo de toda a vida do indivíduo. Aqui, estudar não serviria para nada além de acumular informações, coisa que computadores fazem melhor do que seres humanos.


Um pouco mais tarde, uma segunda leva de trabalhos, iniciada por Michael Hout e colegas da Universidade de Berkley, mostrou que os próprios dados de Herrnstein e Murray apresentavam problemas metodológicos, que exageravam a importância dos testes de QI como fator preditivo e diminuíam a do background familiar.


O debate é apaixonante, mas eu receio que, da forma como foi travado, ele esconda o ponto central, que é o de mostrar por que o racismo é errado. E essa é muito mais uma questão moral do que científica.


A evidência empírica não favorece o argumento da igualdade entre os homens, pela simples razão de que eles não são iguais. E opor-se ao racismo não pode depender de uma ficção filosófica que começou a ser escrita por John Locke no século 17, ao criar o conceito de "tábula rasa", segundo o qual os homens nascem como uma folha em branco, e que todo o conhecimento que adquirem, bem como as diferenças que acabam por desenvolver, é fruto das condições externas a que são submetidos. Um rápido passeio pelos rudimentos da neurologia mostra que já nascemos, senão prontos, pelo menos com uma série de estruturas mentais pré-definidas. E elas têm muito em comum, mas em certos pontos variam significativamente de pessoa para pessoa. Embora Locke seja um dos pais espirituais do liberalismo, a "tábula rasa" fez carreira entre pensadores de esquerda do século 20. Por alguma razão obscura, em vez de defender que todos devem ter os mesmos direitos (o que já estaria de bom tamanho), resolveram que a igualdade deveria ser um dado da natureza, mesmo que isso contrariasse o senso comum e as observações diretas.


É engraçado como estamos dispostos a aceitar diferenças entre pessoas (fulano é mais inteligente do que ciclano), mas não entre grupos étnicos. Em relação a alguns assuntos, comportamo-nos como se filhos não se parecessem com seus pais, como se não houvesse algo chamado hereditariedade, que em algum grau é dada pelos genes, e contribui para a expressão das mais variadas características de uma pessoa.


Não fazemos objeção a um juízo do tipo: negros são em média mais altos do que japoneses, mas basta alguém sugerir que os asiáticos tenham uma inteligência média (definida por testes de QI) superior à do grupo de ascendência africana para desencadear uma revolução. O mesmo vale para as aptidões femininas para a matemática ou a predisposição masculina para a infidelidade conjugal.


Médias são um conceito traiçoeiro. Representam um valor obtido a partir resultados válidos para vários indivíduos, mas que não podem ser extrapolados a nenhum indivíduo em particular. Na média, a humanidade tem um testículos e um seio. Nossa experiência ensina que é perfeitamente possível encontrar um indivíduo negro mais inteligente (por teste de QI ou qualquer outro critério) do que um branco anglo-saxônico, judeu, coreano ou o que for. Se de fato há uma predisposição de origem genética para a inteligência, como parece que há, ela não chega, exceto em casos patológicos, constituir uma barreira intransponível ao sucesso intelectual de ninguém. A vantagem de uma pessoa mais favorecida pelos genes pode ser facilmente revertida por outras características como a disciplina no estudo, para citar um único exemplo.
O argumento contra o racismo, o sexismo e outras chagas que desde sempre atormentam a humanidade deve ser moral. De outra forma, se um dia inventarem um teste confiável para medir a inteligência e ele mostrar discrepâncias entre grupos, o que acontece? O racismo estará legitimado?


Por maiores que sejam as diferenças entre indivíduos e grupos de indivíduos, quer elas tenham origem nos genes ou no ambiente (ou numa interação entre eles, como parece mais provável), o fato é que é em princípio errado prejulgar alguém por características (reais ou supostas) que não observamos nessa pessoa, mas no grupo ao qual consideramos que ela pertence.


Podemos ir um pouco mais longe e afirmar que o homem tem uma estrutura psíquica que favorece atitudes etnocêntricas e mesmo racistas. Pensamos, afinal, através de operações mentais de categorização e generalização. Se um membro da tribo vizinha uma vez me atacou, é evolucionariamente útil que eu parta do pressuposto de que todos aqueles que pertencem àquela tribo inimiga tentarão me agredir e antecipe o ataque. Só que esse tipo de raciocínio, que fazia sentido no passado darwiniano, perdeu inteiramente a razão de ser em sociedades modernas. Se ele já foi útil para manter-nos vivos, hoje, a exemplo da capacidade de armazenar energia na forma de tecido adiposo, é apenas um estorvo. Serve para separar e fomentar violência. As forças da civilização exigem que abandonemos essa forma primitiva de pensar e utilizemos a razão e não reações instintivas no trato com outros seres humanos. É isso que Watson, mesmo com toda sua genialidade científica, não foi capaz de fazer. "


Hélio Schwartsman, 42, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia. Escreve para a Folha Online às quintas.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Sobre jornalistas e geneticistas na Nature Reviews Genetics

a última edição do periódico científico "Nature Reviews Genetics" traz uma publicação interessante sobre a comunicação entre jornalistas e geneticistas (seção Perspectives, ou aqui para quem tem acesso à revista). O título do artigo é "How geneticists can help reporters to get their story right" por Celeste Condit (Departament of Speech Communication, University of Georgia). Segundo a autora, este artigo visa explicar aos geneticistas as forças que moldam o noticiário científico, de forma a minimizar os problemas mais comuns: "Hype" (sensacionalismo científico), determinismo genético e discriminação. Parte do problema parece ser devido ao chamado "hype-space conflict", onde o jornalista tem que lidar com o conflito de usar o pouco espaço que tem apresentando ou 1) um conteúdo mais "chamativo" e "promocional" ou 2) mais informativo, descritivo e imparcial. Além disso, o artigo discute também a questão de reportagens que refletem tendências pessoais do jornalista, independente do conteúdo científico propriamente dito. Muito do artigo baseia-se na divulgação das idéias sobre determinismo genético e sobre raças humanas. O artigo conclui com uma pergunta:

"Grounds for hope arise from the willingness of many journalists to improve their ability to communicate about genetics in an effective fashion. Should geneticists themselves do any less?"

Nota de uma geneticista: concordo que temos que fazer a nossa parte no que diz respeito à divulgação científica "além da academia". Mas é importante notar que a sociedade espera que o geneticista comunique/divulgue ciência primordialmente através da publicação de artigos científicos (ao menos essa atividade é rotineiramente avaliada e exigida de um pesquisador). Deste ponto de vista, o geneticista tem que investir energia em 2 tarefas: comunicação para público especializado e comunicação para o público leigo. Provocação: quem tem que se esforçar mais? Na minha opinião, ainda é o jornalista, já que esta é sua atividade primordial, ou não é?


quinta-feira, setembro 06, 2007

via gene KIDS

Uma inovação (da minha parte pelo menos) para divulgar ciência no universo infantil. Sem tempo para atualizar os comentários do próprio via gene... será possível que o via gene kids tenha mais sorte? Só o tempo dirá... da minha parte fica a intenção e a disposição, com um pouco de organização há alguma chance de sucesso.
Está registrado o nascimento deste pequeno "baby-blog", que seja uma experiência divertida e uma oportunidade de treinar outras formas de comunicação da ciência.
O que pode ser mais infantil que GELATINA? "Abra a booooooca, é Royal!"


domingo, agosto 19, 2007

quem é a vítima?

A resposta, como sugere o texto abaixo, aponta para a sociedade brasileira, que financia bolsistas/cientistas à "fundo perdido"... mas esta resposta corre o risco de ser precipitada no cenário histórico de investimento e desenvolvimento em atividade científica no Brasil. Reconheço que o compromisso do retorno do bolsista ao Brasil (após realizar o Douotorado no exterior financiado pela CAPES, CNPq, etc.) é uma obrigação aliada à estratégia de capacitar o País em um recurso humano ainda raro: cientistas. Mas não posso deixar de fora a realidade do Brasil, onde o "doutor" convive com poucos, inconstantes e limitados recursos de financiamento de pesquisa científica. Além disso, a "fuga de cérebros" é fenômeno que atinge o mundo todo (exceto os EUA - centro de atração desses "cérebros"). A resposta pode ser menos óbvia do que parece...
Recorte e cole: notícia retirada do site da Folha Online:
"União cobra R$ 54 mi de ex-bolsistas do CNPq e Capes

[ANGELA PINHO da Folha de S.Paulo, em Brasília]

Desde 2002, o governo federal pediu a devolução de cerca de R$ 54 milhões que ex-bolsistas de doutorado favorecidos por ajuda oficial teriam recebido de forma irregular.

O levantamento da CGU (Controladoria Geral da União) envolve a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) --principais fomentadores do benefício.

Os motivos dos processos variam de irregularidades como o abandono dos estudos até a falsificação de documentos. A maioria dos casos, porém, é de ex-bolsistas que fizeram doutorado no exterior e não cumpriram a norma de ficar no Brasil por igual período.

Os "doutores que se formam no exterior" foram alvo de crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse haver "contra-senso" entre os que criticam o Bolsa Família e não a "bolsa de US$ 2.000 para um doutor se formar no exterior".

O número de cobranças é pequeno em relação ao de bolsas concedidas. Só o CNPq ofereceu 249.632 entre 2002 e 2006, em um total de R$ 2,6 bilhões. Mas o valor pode ser alto para uma só pessoa, e quem não paga ainda tem o nome enviado ao Cadin -banco de dados de devedores do governo.

É o caso de Cristina Campolina, coordenadora do curso de história da Universidade Federal de Minas Gerais. O TCU a condenou a devolver R$ 655 mil de sua bolsa de doutorado para a Universidade de Illinois (EUA) entre agosto de 1986 e fevereiro de 1991.

Em sua defesa, ela disse que vive em "extrema penúria financeira", mas não adiantou. O tribunal determinou que ela quite a dívida e lhe aplicou uma multa de R$ 22 mil. Campolina afirma que não terminou a tese porque seu orientador dizia que só aceitaria o trabalho se ele tivesse documentos inéditos, os quais ela nunca achou.

Diante da impossibilidade de quitar a sua dívida, ela diz que tentará revalidar os créditos do doutorado no Brasil e defender a tese na UFMG. Porém, como não cumpriu o prazo para a devolução do dinheiro --acrescido de juros pela demora no pagamento--, deve ser acionada pela Advocacia Geral da União.

É o mesmo caso do físico Ricardo de Paula e Silva Masetti Lobo. Em 2004, ele foi condenado pelo TCU a devolver R$ 184 mil. Lobo fez doutorado na França entre 1992 e 1996. Após apresentar sua tese, passou um período nos Estados Unidos e foi para Paris, onde vive hoje.

Embora afirme que há "excelentes" órgãos de pesquisa no Brasil, ele diz que desistiu de voltar porque, na época, não havia laboratórios em sua área de pesquisa no país -uma propriedade específica de "luz síncrotron", no campo da física de partículas. O TCU, porém, rejeitou seu argumento.

"Se a obrigação [voltar ao Brasil] não foi cumprida (...) significa que recursos pertencentes à sociedade brasileira, sabidamente escassos, foram empregados em proveito pessoal do bolsista e, até mesmo, em proveito do país que passou a abrigá-lo", disse na decisão o relator, Augusto Cavalcanti.

Lobo lamenta que a questão tenha chegado ao tribunal. "A discussão deixou de ser científica e virou administrativa." A Capes e o CNPq, porém, argumentam que a caso só vai ao TCU depois do fracasso de uma "negociação amigável".

O presidente da Capes, Jorge Guimarães, cita como medidas para tentar impedir que pesquisadores não voltem ao Brasil acordos com embaixadas para não renovar o visto de bolsistas e até uma análise mais criteriosa antes de conceder bolsas em áreas que o risco do não-retorno é maior, como economia.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, fala também no programa de pós-doutorado criado pela pasta e na contratação de 10 mil professores para universidades federais desde 2003 como incentivos à permanência dos doutores no Brasil.

Para quem já tem as dívidas, contudo, o entendimento agora é com o tribunal."

terça-feira, agosto 07, 2007

contribuição asiática

Estudos das características morfológicas de dentes de hominídeos indicam, segundo artigo que será publicado na PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), que a composição das populações humanas européias tem forte componente asiático. Novamento incluo o link para o site de notícias da Agência FAPESP comentando este artigo. Mais lenha para alimentar a questão da origem Africana x Asiática.
Trecho da reportagem da Agência Fapesp:
"Agora, novo estudo aponta que o homem moderno nem é tão africano em sua origem como se acreditava. Quem afirma é um grupo de pesquisadores europeus, após análise de mais de 5 mil dentes de hominídeos dos gêneros Australopithecus e Homo. Segundo o estudo, populações asiáticas tiverem um papel maior do que as africanas na colonização do continente europeu há milhões de anos"

quinta-feira, julho 19, 2007

um único berço: a África

Post-link só para circular nota sobre evolução humana. O viagene está temporariamente em marcha-lenta (lentíssima!). A previsão de recuperação para este segundo semestre é de 50%, caso contrário continuamos em primeira (marcha), não de ré - eu espero :)


Com o título: Mais africano do que nunca, o site da Agência Fapesp de divulgação científica publicou hoje uma nota sobre um estudoa da revista científica Nature que confirma a hipótese de origem única - na África - da espécie Homo sapiens (sabem de quem eu estou falando?)


Segue reportagem na íntegra:

"Estudando variações genéticas globais e medidas cranianas de diferentes regiões do mundo, pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e da Escola Médica Saga, no Japão, demonstraram que o Homo sapiens teve origem única: na África.

Os resultados da pesquisa, publicados na edição desta quinta-feira (19/7) da revista Nature, podem encerrar uma longa polêmica entre as teorias evolutivas antagônicas que tentam explicar a origem do homem moderno.


A teoria, conhecida como out of Africa (“saída da África”), defende que todos os habitantes do planeta descendem de um único grupo de Homo sapiens que teria deixado o continente africano há cerca de 2 mil gerações.

Por outro lado, a teoria multirregional, refutada pelo novo estudo, defende que diferentes populações de Homo sapiens teriam evoluído independentemente, em diversas regiões, a partir do Homo erectus, que deixou a África há 2 milhões de anos.


Os autores do artigo agora publicado afirmam que os resultados do estudo representam o golpe de misericórdia na teoria multirregional. Os pesquisadores estudaram a diversidade genética de populações humanas e mediram cerca de 4,6 mil crânios de coleções acadêmicas ao redor do mundo. A pesquisa mostrou que, à medida em que as populações se afastaram da África, houve uma perda da diversidade genética e das variações em atributos físicos.

Até agora, análises genéticas têm apoiado a teoria da origem única na África. Enquanto isso, mensurações anatômicas produziram resultados mistos. A nova pesquisa procurou cruzar os dois métodos. De acordo com o coordenador do grupo, Andrea Manica, do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, um dos principais argumentos da teoria multirregional foi refutado quando se verificou que houve perda de diversidade genética nas populações à medida em que os humanos modernos se afastaram da África.


“Alguns cientistas haviam usado dados de medidas cranianas para argumentar que os humanos modernos se originaram em locais múltiplos do mundo. Nós combinamos dados genéticos com novas medidas de uma amostra mais ampla para mostrar definitivamente que os humanos modernos são originários de uma única área da África subsaariana”, disse Manica.

Segundo os pesquisadores, a redução da diversidade genética conforme as populações se afastavam da África foi resultado de “gargalos” ou de eventos que temporariamente reduziram as populações durante a migração.

As mensurações dos 4,6 mil crânios provenientes de 105 populações mostraram que as variações não apenas eram maiores entre as amostras do sudoeste africano como decresciam na mesma proporção dos dados genéticos, à medida em que se afastavam do continente.


Para garantir a validade da evidência de origem única, os cientistas usaram seus dados de modo a buscar origens não-africanas em humanos modernos. “Tentamos encontrar uma origem adicional não-africana, mas isso simplesmente não foi possível. Nossos achados confirmaram que os humanos vieram mesmo de uma única área da África subsaariana”, destacou Manica.

O artigo The effect of ancient population bottlenecks on human phenotypic variation, de Andrea Manica e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com. "

quinta-feira, junho 21, 2007

crise nas universidades...

viagene volta num post-relâmpago para uma nota sobre a atual crise nas universidades paulistas, onde manifestações diferentes com motivações diferentes têm criado um certo caos de comunicação e alimentam polêmicas sobre a legitimidade de invasões, greves, notas de repúdio, etc... fica-se com a impressão de que DIÁLOGO é coisa ultrapassada - avançado mesmo é INVADIR! Leia aqui um comentário de Geraldo Di Giovanni (professor da Unicamp) com o qual eu concordo em grande parte*.

*particularmente nunca vi nada errado em haver festas na universidade, mas sou de um tempo quase pré-histórico quando as festas eram eventos quase "artesanais", em horário de "matinê" e promoviam a integração cultural inclusive (como as famosas BIOART dos anos 90) e não super-produções da madrugada.

O blog Roda de Ciência está promovendo um debate sobre o tema este mês. Por favor inculam eventuais comentários aqui.

quarta-feira, abril 04, 2007

Orkut na Academia

Diretamente do "site" de notícias da Agência FAPESP:
Quem você conhece: a revolução da social network

04/04/2007 Agência FAPESP

O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo, em São Carlos (SP), promove, no dia 5 de abril, às 11 horas, a palestra Quem você conhece: a revolução da social network.

O evento, que é aberto ao público, será apresentado por Orkut Buyukkokten, engenheiro de software e gerente de produtos do Google, que falará sobre o desenvolvimento do site de relacionamentos Orkut, com enfoque nos aspectos sociais e técnicos para manter um sistema que superou os 40 milhões de usuários no mundo.

Mais informações: eventos@icmc.usp.br
Viagene: é realmente uma revolução na internet esse Orkut, e tópico dos mais polêmicos na academia. Vale a pena conferir!

quinta-feira, março 22, 2007

Blog do Marcelo

Não é sobre o Marcelo Leite - desta vez... mas queria promover a divulgação do Blog do Marcelo Knobel "Diário de bordo: cultura científica EUA 2007" que foi criado para divulgação de uma aventura científica (ou o que o próprio denomina "cultura científica") nos Estados Unidos. Esta oportunidade surgiu como parte de um programa da Fundação Eisenhower (bolsa Eisenhower Multinações) e contemplou este professor do Instituto de Física da Unicamp.

Eis a saudação do viagene comentada no blog do Marcelo Knobel:

Parabéns pela iniciativa de submeter seu currículo à seleção e, obviamente, por ter sido selecionado. Boa sorte nesta viagem-aventura-científica e que sobre tempo para atualizar o blog (ferramenta extremamente "feliz" para uma oportunidade como esta). Vou fazer um "link" no Via Gene para esta nota da Unicamp e para o seu blog, OK? Espero que além de divulgar suas andanças pelo "caminho de Santiago" científico dos EUA, seu blog também tenha um papel importante como modelo de estratégia de divulgação científica e contribua para promover a validade esta atividade para nossa comunidade científica (a Unicamp já inova neste sentido, mas pré-conceitos ainda persistem). Quem sabe você consegue "emplacar" um blog científico no quadro de blogs da Folha de SP? Futebol, F1, gastronomia, política, etc. já estão contemplados há tempos... será a ciência desinteressante de ser "bloggada" ou serão os cientistas que resistem ao formato e à exposição nestas "condições" :). Enfim, sucesso!

A notícia veiculada pelo site da Unicamp pode ser lida aqui.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

língua-mãe ou madrasta?



"Should we therefore make additional efforts to incorporate scientific English into our culture or should we improve our native scientific language? There seems to be no easy solution, although both alternatives present considerable challenges for any non-English-speaking countries. "
ou seja:
"Devemos nos esforçar mais para incorporar o Inglês científico na nossa cultura ou devemos melhorar nossa linguagem científica nativa? Parece não haver uma solução fácil para esta questão, embora ambas as alternativas representam desafios consideráveis para qualquer país que não fala Inglês."
Vale a pena ler a discussão apresentada neste artigo da última EMBO Reports sobre o desafio de escolher entre o uso do idioma oficial (Inglês) ou da língua nativa em publicações científicas. Entram neste tema questões como índice de impacto, soberania nacional, visibilidade na comunidade científica, dificuldades no domínio da língua inglesa, etc.


Espero ter tempo para ampliar esta discussão no viagene, aguardem.




terça-feira, janeiro 30, 2007

ciência e a arte de falar simples: uma tentativa


De volta depois de 2 meses...

Texto inspirado no tema de janeiro para o blog Roda de Ciência: a arte de falar simples


Nunca fui escoteira... mas sempre quis ser. Conheci a prática do escotismo através da intensa convivência com amigos “lobinhos” - denominação dada às crianças de 7 a 10 anos que praticam escotismo - durante a minha infância e que se estendeu até a adolescência. Mas na minha época, ao invés da matilha, a opção feminina para o grupo escoteiro eram as Bandeirantes... também não fui bandeirante por nutrir algum preconceito, confesso: diziam que aí se praticavam atividades associadas a costura e cozinha (mal sabia eu o benefício de me habilitar nestas práticas, que agora me faltam...) e achei que estava muito distante do sonho da aventura de acampamentos e excursões na “selva”, no manejo de canivetes, cordas, lanternas e fogueiras, no contato com a natureza e no trabalho – e diversão – em equipe.

- E o que tem isso a ver com o tema “a arte de falar simples”?

A conexão se fez quando fui convidada para dar uma palestra sobre quem é o biólogo para um grupo escoteiro há quase 10 anos atrás. Senti-me tentada a aceitar o convite pelas razões “históricas” reveladas acima. Devo esclarecer que há no escotismo uma diferenciação de “patentes”, a partir dos ternos “lobinhos” até o “chefe-escoteiro”, e cabe ao escoteiro cumprir determinadas tarefas para receber um grau “superior”. Uma destas tarefas era “entrevistar um biólogo”, e para inovar, o escoteiro desta história, optou por apresentar um biólogo em “carne e osso” (no caso, eu) para a turma. E aí surgiu a oportunidade e a necessidade de adaptar o discurso acadêmico ao formato do “falar simples” para divulgar a ciência feita pelo biólogo. Será que o escoteiro poderia imaginar que a conversa seria sobre a vida e a arte das moscas varejeiras?!

O que parecia uma tarefa simples se transformava num desafio cada vez maior à medida que crescia minha consciência do abismo que pode haver entre estas duas linguagens de divulgação, a acadêmica e a informal. Por isso mesmo é preciso um artista para mediar esta transformação do conteúdo, e nem todos somos Charles Chaplins capazes de traduzir a complexidade da vida humana e suas relações através de obras primas que se revelam para todas as idades e “escolaridades”, numa linguagem “universal”.

Munida de um puçá*, um pôster, uma gaiola de moscas e mais algumas surpresas (como larvas e pupas), fui ao encontro deste desafio. Foi um começo meio desafinado, que foi se transformando conforme via os rostos das crianças e adolescentes respondendo ao mundo novo – do biólogo – que ia sendo apresentado ali. A curiosidade é realmente uma aliada inestimável para o divulgador de ciências e, escoteiros, além de sempre alertas, são criaturas extremamente curiosas (até por serem crianças!). Claro que uma gaiola cheia de moscas verdes e um “tupperware” com carniça e larvas esfomeadas foram elementos importantes para despertar essa curiosidade, seja pelo interesse no sistema biológico em si ou pela perspectiva “meio nojenta” – para quê serve isso?

*Visto que o tema é “falar simples”, fica o esclarecimento: puçá: ferramenta formada por uma vara e uma redinha de filó presa ao redor de um aro que serve para capturar pequenos insetos (classicamente associado à captura de borboletas, mas também serve para pegar moscas! ver foto do "post"); larvas: “filhotes” de moscas (fase do ciclo de vida da mosca, popular “verme”); pupa: casulo (fase do ciclo de vida em que ocorre a metamorfose, transformando a larva em mosca adulta).
Tupperware: potinhos de plástico com tampa que revolucionaram os anos 80!

Foi uma experiência inesquecível! Mostrar o ciclo biológico de um organismo, falar de classificação taxonômica, comentar o que são relações filogenéticas (não vale dizer que mosca varejeira “é prima” da mosca doméstica), que mosca tem DNA (inclusive na mitocôndria – mitoquê?), que DNA é uma estrutura dinâmica que conta histórias, histórias evolutivas reveladas por marcas que são passadas por gerações... isso tudo tão fascinante!

E como funciona isso? Interrompe uma pequena apontando para o puçá.

E dá-lhe procurar um inseto para que todos vejam um biólogo em ação. Sorte a minha eu ter conseguido pegar uma micro-mariposa (único inseto voador que assistia à palestra), enquanto me esforçava para não comprometer a figura do biólogo... mal sabiam eles que minhas habilidades com a pipeta (micropipeta, para ser exata) e um tubo eppendorf superam em muito minha desengonçada performance com o puçá (até porque pegar moscas varejeiras com puçá é tecnicamente mais fácil do que pegar mariposas ariscas).

Mas, apesar de divertido, descobri que o “falar simples” é uma tarefa complexa, e sendo arte, requer talento, dedicação e inspiração. Ser simples ao falar de ciência não é o mesmo que ser simplório... ou seja, existe uma linguagem científica, onde diferentes modalidades da ciência adotam termos próprios, o conhecido jargão, para definir conceitos e se expressar da melhor forma possível. O “falar simples” deveria traduzir completamente a linguagem científica? Acho que não é bem assim. No meu mundo ideal, o “falar simples” seria uma ponte para transportar o interessado (ou leigo?) para esse mundo particular, sem “facilitar” a ponto de entediar, nem improvisar a ponto de deturpar a informação. A linguagem científica se utiliza de termos próprios e desconhecidos do público geral para tentar traduzir a própria natureza, assim como Saramago nos provoca a consultar o dicionário para trilhar seus densos – e inspirados – escritos. A arte do “falar simples” está no sucesso de uma divulgação científica que não violenta a linguagem científica, que acrescenta conhecimento àquele que lê – promovendo uma ampliação do universo deste – atraindo-o para uma outra dimensão. Ser um divulgador de ciência não é ser um tradutor, é ser um artista.
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