domingo, outubro 09, 2005

doutores sem fronteira...

Para não deixar passar em brancas nuvens: a segunda SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA reuniu inúmeros eventos em instituições de ensino e pesquisa de todo País. Uma proposta deste blog foi apresentar algumas impressões de doutores brasileiros no exterior, de modo a tirar algumas questões da "marginalidade" nesta oportunidade de discutir o futuro da ciência e tecnologia no Brasil. Os textos enviados para este blog foram publicados na íntegra, o anonimato foi sugerido como uma opção e a proposta foi enviada no formato de um questionário, cada questão pode ser respondida individualmente ou na forma de um texto, integrando todas as respostas. Nas próximas postagens estarei apresentando estes testemunhos e agradeço sinceramente àqueles que gentilmente dedicaram um pouco do seu tempo nestas reflexões. Muito obrigada e sucesso, no Brasil ou fora dele.

As questões:

Texto introdutório: "Estou pensando em publicar no blog respostas de pesquisadores brasileiros, que estiveram ou estão no exterior, a um curto questionário. Pensei em ilustrar as "expectativas e realidades" enfrentadas pelo pós-doc ou doutorando nesta experiência. Seria algo assim:

1) nome ou alguma forma de identidade (apelido, pseudônimo - se quiser ficar anônimo);
2) área de formação/especialização no exterior;
3) expectativas quanto à experiência no exterior;
4) avaliação do confronto "expectativa X realidade";
5) expectaiva ou realidade quanto ao retorno ao Brasil;
6) top 5 aspectos positivos e top 5 aspectos negativos sobre sair do Brasil/viver no exterior"

Caso 1: Helô

"Meu nome é Heloisa, ou simplesmente Helô. Graduei-me em Ciências Biológicas pela UNICAMP, onde também fiz meu mestrado (em Microbiologia) e doutorado (em Biologia Celular). Agora estou nos Estados Unidos, em Nashville, TN, na Vanderbilt University, para um pós-doc, em Biologia Celular, na área de Nefrologia.

A minha expectativa em relação ao meu futuro após essa experiência é que eu consiga um diferencial para, quem sabe, conseguir um emprego no Brasil que me agrade. Quando digo que me agrade, estou falando que seja numa cidade boa, numa universidade/faculdade legal. A chance de vir pra cá apareceu meio que de bandeja, já que uma amiga minha estava aqui, soube da vaga e me avisou. Eu achei que seria uma boa oportunidade, pois, embora trocasse de tecido (de próstata para rim), eu ainda estaria dentro da Biologia Celular e mais especificamente, continuaria com Matriz Extracelular. Outro ponto importante e que me deixou um pouco animada foi ver que existem poucas pessoas no Brasil que publicam nessa área. Será uma chance a mais de poder “introduzir” uma linha nova!

Acho que logo que a gente chega num lugar novo (e nem precisa ser fora do país), a gente cria muitas expectativas, principalmente querer trabalhar muito para ter vários resultados. Bom, logo os ânimos acalmam pois a gente se dá conta de que o tempo passa muito rápido, mas as coisas acabam não andando na velocidade que você gostaria que fosse. Agora estou com seis meses de trabalho e se tivesse que apresentar resultados, não os teria... Chega a ser um pouco desanimador, mas por outro lado as promessas são grandes e a isto associa-se o fato de sermos mais “experientes” e sabermos que as coisas demoram um pouco a acontecer. Meu chefe diz que um bom pós-doc é de 2-3 anos. Tenho que concordar. Por outro lado, acho que para nós, qualquer experiência é válida. O problema de ficar pouco tempo (1 ano) é que provavelmente não dará tempo de fechar um paper (mas isso também depende um pouco da área) e, embora não se perca a publicação, provavelmente seu nome não será mais o primeiro... Mas eu penso que um ano é melhor do que nada. É legal ver o jeito como eles pensam, a realidade do trabalho deles e ver o porque de algumas coisas serem fáceis aqui e também ver alguns defeitos e até mesmo inexperiências, coisas talvez que a falta de dinheiro ou a ciência mais básica resolve mais facilmente.

Por enquanto sei que quero voltar pro Brasil e não penso em outra possibilidade. Mas as oportunidades aqui são muito boas e dependendo do grau de descomprometimento que se tem com pessoas/coisas do Brasil, profissionalmente não há dúvida de que aqui é um bom lugar pra um biólogo. Como faz pouco tempo que estou aqui, não tenho pensado muito sobre as expectativas que tenho em relação ao Brasil. Sei que a realidade é difícil e vejo isso pelos meus amigos que aí estão!

Minha lista de pontos positivos: crescer pessoalmente, trabalhar num país onde se investe na pesquisa, aprender a discutir resultados, conviver com pessoas de toda parte do mundo, aumentar a “network”. Os pontos negativos: estar longe da família e dos amigos, muitas vezes não conseguir se fazer entender (mas este é um problema que varia de pessoa pra pessoa)... Que bom que por enquanto só sei dois! Isso quer dizer que ainda estou bem :)!!!"
É isso aí Helô! Estamos na torcida pelo seu sucesso! ana

2 comentários:

Lucia Malla disse...

Uma iniciativa bem legal, a das entrevistas. Parabens! :-)

via gene disse...

obrigada pelo comentário! Espero "postar" mais algumas em breve.
um abraço, ana