sexta-feira, setembro 30, 2005

Contra, a favor ou muito pelo contrário

Às vezes me parece que não tem nada que combine mais com americano do que marketing... Uma batalha judicial está mobilizando leigos e cientistas nos Estados Unidos: pais preocupados com o educação dos filhos entraram na justiça para evitar que o "Intelligent Design" ou teoria do Design Inteligente seja ensinado nas escolas como alternativa à teoria da evolução de Darwin, baseada na seleção natural. Alternativamente, explicam a complexidade e a diversidade biológica pela intervenção sobrenatural. Esta polêmica já não é de hoje, ontem chamavam-se criacionistas, o termo moderno é ID (Inteligent Design), e sabe-se lá o que nos aguarda o futuro. Seja como for, há um abaixo-assinado sendo divulgado na internet (eu recebi um email de um dos pesquisadores mais renomados da área de genômica mitocondrial, o Dr. Jeffrey Boore do Joint Genome Institute) por um período de 4 dias que pretende obter mais de 4000 assinaturas de cientistas (parece que já conseguiu), incluindo arqueólogos, biólogos, evolucionistas, paleontólogos, biologistas moleculares e teólogos até! E vejam pela foto que há opções para todos os gostos, para recém-nascidos, dorminhocos, bebedores de café, animais e, claro, a tradicional camiseta para divulgação da proposta. Depois, com tempo, eu incluo os links para um ou outro site interessante que foi comentado aqui, OK? Inclusive dos fornecedores de "material de propaganda" para quem quiser dar um presente para seu sobrinho recém-nascido... haja criatividade!

segunda-feira, setembro 26, 2005

projeto genoma musical

O "Music Genome Project (MGP)", fundado por Tim Westergren e colaboradores em 6 de janeiro de 2000, desenvolve a idéia de criar um ambiente onde a essência musical de um indivíduo fosse captada (seria por aí a analogia genômica?) . Foram compiladas centenas de "genes" musicais (???) resultando num abrangente "Music Genome". Seria como se cada música carregasse uma identidade musical, algo além do que simplesmente o gênero muscial, uma combinação de atributos mais fundamentais como melodia, harmonia, ritmo, instrumentação, orquestração, arranjo, letra e canto (seriam estes os "genes"?). Nos últimos 5 anos esta iniciativa (MGP), ouviu mais de 10.000 músicas de diferentes artistas, analisando cada atributo individualmente, de modo a criar uma "extraordinária coleção de análises musicais" - segundo seus autores. A proposta é servir como guia pessoal para explorar seu universo musical preferido (mesmo que desconhecido para o próprio interessado) . Confira se seu genoma se identifica com a proposta em www.pandora.com (mais sobre o projeto aqui)

Essa nota (sem abusar do trocadilho musical) saiu semana passada na Folha (de São Paulo) Informática, e como é mais uma alusão ao termo genoma que foge do convencional, achei curioso incluir este comentário.

quinta-feira, setembro 22, 2005

dar nome aos Bos taurus

Bos taurus Linnaeus, 1758. Apesar do inconveniente fonético, este é o nome científico que batiza o boi (ou mais rigorosamente, uma espécie de bovídeo). A nomenclatura binomial de Lineu foi uma das contribuições mais significativas para o desenvolvimento das ciências biológicas. A taxonomia, a ciência que estuda a classificação dos seres vivos, é bombardeada com a descrição de novas espécies continuamente, 24hs/dia... a necessidade de uma descrição criteriosa para a correta identificação dessa mega-diversidade biológica traz consequências: o conhecimento em taxonomia é visto, muitas vezes, como um conteúdo hermético, de difícil acesso e, deste modo, pouco "democrático". A Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica (ICZN) lançou a proposta de criar um registro "on-line" de acesso público para a nomenclatura animal, e acaba de publicar esta intenção como um comentário na revista Nature desta semana ("A universal register for animal names"). A idéia é ter um banco de dados (ZooBank) para armazenar e gerenciar novos nomes taxonômicos, de modo a promover uma maior padronização destes dados e disponibilizar um cadastro com acesso otimizado para a comunidade científica, instruída na arte da taxonomia ou não. Andrew Polaszek (secretário executivo da ICZN) cita a iniciativa e o formato do GenBank como modelos pra o ZooBank, e acredita que eventuais conflitos (cadastro no banco X registro via publicação científica) serão facilmente administrados. Ele aproveita também para sugerir que métodos de taxonomia molecular (como o DNA barcodes) poderiam beneficiar-se imensamente desta iniciativa.
Li uma crítica recente no Jornal da Ciência da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) onde o Dr Mário de Vivo, curador do museu de zoologia da USP, afirma ser muito fácil para ele encontrar qualquer informação taxonômica sobre sua área de especialidade na literatura científica disponível e não vê maior relevância na implementação de algo como o ZooBank... pois eu só vejo benefícios (mas não sou taxonomista)!

PS - A crítica do Dr. Vivo pode estar sujeita a algum viés de memória, pois li o comentário apenas uma vez e não sei se distorci de alguma forma seu conteúdo (estou tentando recuperar o artigo onde li isso, se alguém tiver o texto original pode me mandar uma cópia? Obrigada!)

terça-feira, setembro 20, 2005

habeas corpus in mens in-sana

Genoma agora virou argumento a favor da liberdade de chimpanzés: segundo o Jornal Folha de São Paulo de hoje, o promotor Heron Santana (+ 2 promotores, + 4 professores universitários e + 4 diretores de ongs ambientalistas) solicitou um habeas corpus para soltar um chimpanzé (aliás, umA chimpanzé) do Zoológico de Salvador (BA) argumentando (entre outras coisas) que deve-se considerar que o genoma do chimpanzé é 99,6 % idêntico ao genoma humano. Consta inclusive uma citação dizendo que a chimpanzé "é uma pessoa que não pode permanecer presa." Outras informações da reportagem alertam para o fato das condições precárias e impróprias da "carceragem" da pobre macaca, o que por si só já justificaria uma transferência, mas fazer alusão à identidade genômica quase-humana foi uma novidade para mim, um desses desdobramentos imprevistos da ciência ou da má-interpretação e aplicação questionável (no menos precipitada) de seus resultados. Qual será a opinião da macaca sobre isso?

quinta-feira, setembro 15, 2005

Harry e o mundo (não determinista) de Mendel...

Ingenuamente pensei que a inclusão, pela revista Nature, de um comentário sobre analogias entre os princípios de Mendel e as histórias de Harry Potter (comentado anteriormente neste blog sob o título "Harry Potter e o mundo de Mendel") fosse muita "divulgação" (afinal o Indice de Impacto da Nature é 32,182) para apenas uma curiosa circunstância... enfim, ao que tudo indica eu estava enganada:

Fato é que foi publicada esta semana uma réplica (Nature 437, 318 doi: 10.1038/437318d) entitulada: "Harry Potter and the prisoner of presumption" de Antony N. Dodd, Carlos T. Hotta & Michael J. Gardner (cientistas de Cambridge!) mostrando que o assunto é mais polêmico e de interesse mais amplo do que eu imaginei. Estes autores afirmam: "We believe the assumption that wizarding has a genetic basis to be deterministic and unsupported by available evidence", ou seja: "acreditamos que a suposição de que a habilidade bruxesca tem base genética é determinista e não é apoiada pelas evidências disponíveis" (tradução livre).

E eu aqui trabalhando com moscas... seja como for, a crítica ao determinismo genético (vigorosamente empunhada pelo jornalista Marcelo Leite, ver blog Ciência em Dia) também faz parte do mundo de Harry afinal.

Nota: sobre o índice de impacto de revistas científicas, devo esclarecer que o valor 32 atribuído à Nature é calculado com base no número de citações dos artigos desta revista (indiretamente poderia-se extrapolar que o índice de impacto reflete, em parte, a contribuição dos artigos publicados pela revista na produção de conhecimento científico). Dentre as revistas científicas brasileiras, por exemplo, apenas uma (a Journal of the Brazilian Chemical Society) tem índice de impacto maior do que, pasmem, 1 (um, isso mesmo). O índice de impacto desta revista é de 1,161 (qual havia sido o seu palpite?) .

terça-feira, setembro 13, 2005

Ciência verde-amarelo

De 3 a 9 de outubro será realizada a segunda "Semana Nacional de Ciência e Tecnologia" com eventos diversificados (exposições, cursos, palestras, mesas redondadas, vídeo-conferências, etc.) em inúmeras instituições/unidades de pesquisa de todo Brasil. Na semana da C&T Nacional estarei 100% dedicada a outra atividade e, portanto, 'fora do ar' com relação ao blog. Mesmo assim, irei bloggar uma série de depoimentos informais sobre "Doutores sem fronteiras" que contam um pouco do histórico recente de jovens doutores (que sairam ou ficaram no País) e suas perspectivas com relação à fazer ciência no Brasil e o mercado de trabalho. Hum... parece interessante! Em breve, neste blog. Fiquem à vontade para incluir sua história (contato via blog ou aclessinger@hotmail.com).

Agregando valores... outra história

O "Annual Life Sciences Salary Survey" publicado pela revista "The Scientist", dá uma idéia do salário pago aos cientistas de diferentes áreas de especialização das Ciências Naturais nos Estados Unidos. A genética é uma das últimas no ranking! E a diferença de valor é significativa quando comparada ao salário-campeão pago ao profissional da área de descoberta de fármacos/drogas. Nem pensar em fazer uma comparação com os salários (ou melhor, salários-bolsas) dos pesquisadores brasileiros. Fica aí uma imagem para reflexão.

sábado, setembro 03, 2005

congresso de genética

Estou temporariamente "fora do ar" devido ao 51° Congresso Brasileiro de Genética da SBG (Sociedade Brasileira de Genética) na próxima semana. O laboratório entrou no 'frenesi' pré-congresso para preparação de apresentações e trabalhos, nossos painéis podem ser identificados pelos códigos: GA313 (métodos em genômica mitocondrial), GA 315 (estrutura e evolução da região-controle do DNAmt de moscas-varejeiras), GA316 (estrutura da região ITS2 de moscas-varejeiras e potencial filogenético), GA317 (microssatélites em Cochliomyia macellaria), GA318 (microssatélites na mosca-da-bicheira, Cochliomyia hominivorax), GA319 (estrutura e evolução do genoma mitocondrial da mosca-dos-estábulos, Stomoxys calcitrans), GA320 (estrutura e evolução do genoma mitocondrial da mosca-dos-chifres, Haematobia irritans), GA321 (microssatélites na mosca-dos-chifres, Haematobia irritans) e GA323 (análise de marcadores LongPCR-RFLP no DNAmt da mosca-dos-chifres, Haematobia irritans). Vale a pena conferir!